domingo, 26 de julho de 2009

Mortes de motociclistas vão ultrapassar as de pedestres ainda neste ano, mostra pesquisa

FELIPE NÓBREGA
da Folha de S.Paulo

Os pedestres sempre lideraram o ranking de mortes por acidente de trânsito no Brasil. No entanto, neste ano, o posto será ocupado por uma outra categoria: a dos motociclistas.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, de 2001 a 2006, enquanto o número de mortes de pedestres se estabilizou em 10 mil vítimas por ano, o de motociclistas aumentou 131%, chegando a 7.162 ocorrências --em carros, houve 30% mais óbitos (7.639).

Paralelamente, o Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito diz que já compilou cerca de 85% dos acidentes registrados em 2008 e revela que a diferença entre a mortalidade de pedestres e a de motociclistas nunca foi tão pequena --apenas 518 óbitos no ano.

"Nesse ritmo, já em 2009, os motociclistas serão maioria entre as vítimas de trânsito", analisa David Duarte, coordenador da pesquisa e professor da UnB (Universidade de Brasília).

Para Deborah Malta, diretora do departamento de análise de situação de saúde do governo federal, "o fato não seria surpresa", pois o aumento contínuo de mortes de motociclistas atingiu "curva epidêmica".

Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) já mostram as categorias de pedestres e motociclistas praticamente empatadas em mortalidade hospitalar (acidentados que morreram em um hospital público).

Em 2006, as mortes de motociclistas já ultrapassavam as de pedestres em 12 Estados brasileiros, entre eles Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, segundo o último relatório do Ministério da Saúde.

São Paulo fará parte desse grupo em dois ou três anos, calcula o consultor de trânsito Eduardo Biavati. "Não é apenas o crescimento da frota de motocicletas que engrossa as estatísticas. Falta um programa de formação e educação adequado para o condutor de moto."

Ricos e pobres

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), nos últimos quatro anos, a frota de motos na capital paulista cresceu 53,3%, e o número de óbitos de motociclistas, 38,5%.

Já a frota dos demais veículos no mesmo período aumentou (15,7%), mas o número de mortes de seus ocupantes permaneceu estável.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o número de mortes de pedestres, ciclistas e motociclistas é maior em países emergentes. Pelo estudo, o trânsito chinês é um dos que apresentam a maior porcentagem de morte de motociclistas (28%) e de pedestres (26%), números que o Brasil deverá igualar ainda neste ano.

Em países ricos, como a Inglaterra, a morte de motociclistas representa 19%, e a de pedestres, 21%. E cai a cada dia.