terça-feira, 23 de setembro de 2008

26% dos motociclistas estão ilegais

27/03/2008 14:51:38
De 2001 para cá, o número de motos passou de 192.451 para 431.247 em todo o Estado. Foi um aumento de 124% em relação ao total da frota registrada em 2008

São 8 horas de uma segunda-feira. Entre as ruas Solon Pinheiro com Carlos Gomes, o taxista Raimundo Bastos prevê muitos aborrecimentos. Um motoqueiro tinha acabado de avançar a preferencial, destruindo toda a frente do carro arrendado por ele. Serão 15 dias sem ter como trabalhar. "Foi a terceira vez que bati numa moto, sempre porque eles avançam a preferencial. Eles não obedecem às leis". Enquanto isso, no mesmo horário, Antônio Domineu acordava mais um dia no Instituto José Frota (IJF). Já são mais de 150 dias internado, desde que um carro avançou a preferencial na avenida Perimetral. Ele perdeu parte da perna esquerda. "Eu ia para o trabalho. O motorista bateu em mim, parou, me chamou de otário e foi embora", lembrava.

No Ceará, conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), nos últimos sete anos, enquanto a frota de carros aumentou 43%, a quantidade de motos ultrapassou o dobro registrado em 2001. O número passou de 192.451 para 431.247 motocicletas em todo o Estado, um aumento de 124% em relação à frota registrada em 2008. O problema é que a quantidade de habilitações não acompanha este crescimento. Em 2006, dado mais recente do Denatran, apenas 304.932 motoristas eram habilitados. Neste ano, a frota era de 362.538 motocicletas. Pelo menos 26% dos motociclistas dirigem ilegalmente. Em todo o Brasil, o Ceará é o sexto estado em quantidade de motos, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Quando o ranking é da quantidade de motos em relação à frota total de veículos, o Ceará é o quinto do Brasil, com 36%. Fica atrás apenas do Piauí, Maranhão, Rondônia e Roraima. Para se ter uma idéia, São Paulo aparece em 25º, com 15%. Com o crescimento do número de motos nas ruas, cresce também o índice de acidentes. No Ceará, 35% do total de acidentes de trânsito ocorrem com motocicletas. O Estado ocupa o 10º lugar nesta relação, juntamente com o estado de Pernambuco, conforme dados do Denatran. Em 2001, essa relação era de 27%. Só em Fortaleza, segundo a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), foram 7.416 vítimas de acidentes com motos em 2007, sendo 5.382 feridos e 74 mortos. Os motoqueiros ocupam o primeiro lugar no ranking de feridos e o segundo no ranking de mortos, atrás somente dos pedestres.

Em conversas com motoristas e motociclistas, um acusa o outro de irresponsabilidade e falta de respeito. Mas de quem é a culpa? De acordo com Carlos Henrique Pires, diretor de trânsito da AMC, existe uma falta de cidadania mútua. "Há excesso por parte do motociclista e um desrespeito do motorista. Na prática, o que a gente verifica é que um coloca a culpa no outro. Ninguém se auto-analisa e assuma sua parcela de culpa". E no dia-a-dia do trânsito o que se vê é o veículo desrespeitando a moto que anda na sua faixa, querendo jogá-la para o canto da pista, e motoqueiros zigue-zagueando no trânsito em alta velocidade.

Como o taxista Raimundo Bastos e o motoqueiro Antônio Domineu, são muitos os atingidos por essa relação complicada entre motos e carros. Os argumentos, justificativas e acusações são as mesmas. "Eu trabalho de 10 a 12 horas por dia dentro deste carro. Só tenho problema com uma coisa: moto. Eles são imprudentes, cortam os carros e andam rápido demais", destacou o taxista. Antônio Domineu defende que existem motoqueiros assim, outros não. "Eu andava direito, com capacete e em dia. Veio um carro avançando a preferencial e bateu em mim. E aí?". O depois do acidente não faz medo para ele. "Vou colocar uma prótese e viver minha vida. Agora pode tirar foto. Olha aí menino, tô ficando importante", brincou.

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Quanto custa para o Estado um paciente acidentado. O que poderia ser investido em educação, saúde ou infra-estrutura, tem de ser deslocado à grande parcela da população que se envolve em acidentes com motos. Além disso, eles acabam ocupando leitos que poderiam ser usados por pacientes que não podem prevenir doenças.

NÚMEROS

124% foi o aumento da quantidade de motos de 2001 para 2008, enquanto o aumento da frota de carros foi de 43%
431.247 motocicletas rodam em todo o Estado

6ª é a colocação ocupada pelo Ceará no ranking dos estados com maior número de motos

36% é a quantidade de motos em relação ao total de veículos no Ceará

35% do total de acidentes de trânsito ocorrem com motocicletas no Estado

7.416 pessoas foram vítimas de acidentes com motos em 2007

Fonte: Denatran e AMC

Fonte: O Povo / Fortaleza

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